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sexta-feira, 16 de maio de 2014

A invisibilidade do ser

Falar da loucura é fácil. Ouvir sobre é mais fácil ainda. Estar de frente com a loucura é... Digamos é um tanto curioso. Penetrar naquele mundo, um mundo paralelo à realidade é provocante. Como ouvir com o olhar? Sentir o outro como nós, mas sem pena. Se enxergar naqueles olhares vazios, distantes, angustiado, sofredores e algumas vezes empolgantes.
O sofrimento mental é uma rota de fuga para angústias vividas, sentidas no âmago do ser. Que numa experiência de observante nos leva a traduzir o quão de misterioso há no viver, de quanta subjetividade é escondida, de quanto o ser humano é rico em emoções, sentimentos, dores fechadas, trancadas dentro de si.
O diferente no nosso mundo é se tornado invisível aos olhos da normalidade. Porque o diferente causa sensações torturantes. Ser igual é ser normal, quando sou igual não tenho opção de escolha, faço o que o outro faz, penso o que o outro pensa, visto o que o outro veste... A subjetividade, a essência adormece, tornando o sujeito desconhecido de si mesmo.
A loucura o faz ressurgir. As dores, alegrias sentimentos escondidos. Sofrimentos que transbordaram em suas caixinhas de sanidade. O que dizer daquele que simplesmente tenta ser o que lhe foi negado toda sua vida, muitas vezes desde seu nascimento. Como trata-lo, como trazer pro meio da normalidade, como fazer ser visto sem indiferença.
Esse seja o maior objetivo e desafio do psicólogo no contexto do sofrimento mental. Inserir esse sujeito em um lugar de regularidade, mudar pensamentos preconceituosos ou muitas vezes apenas fazer conhecer o desconhecido, enxergar o invisível.

Trabalho árduo, cativante, porque não se trata de um objeto qualquer, mas de dar novamente uma vida a um ser, cooperar na devolução da dignidade um dia roubada pelo simples fato de ser diferente.


Texto: Valdirene Cordeiro e Maria Nadjara
Foto retirada na apresentação da peça: ''Por olhares sobre a luta antimanicomial: Morrendo em vida aos braços da loucura.''

5 comentários:

  1. tivemos o prazer de conhecer, de interagir com usuários de saúde mental, a nossa visita os Hospital Psiquiátrico, nos fez ver a realidade desses sujeitos que são na maioria das vezes excluído da sociedade por serem diferente ,mas vimos o quão gratificante foi essa visita, pois os mesmo nos mostraram o que são capazes de fazer, seja através dos desenhos, de poemas e principalmente das conversas. O que eles querem, e ser feliz, e ter atenção, e ser livre para ser do jeito deles, e cabe a sociedade quebrar com seus tabus e terem um novo olhar para a saúde mental.

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    1. Emocionante e ao mesmo tempo um pouco de medo de se encontrar tão de frente com a realidade que nos espera. Mas, não um medo do outro, um medo de não conseguir ser capaz, de não conseguir amar tanto aquele outro como merece.

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  2. Diante de tudo isso, da visita que fizemos a clínica psiquiátrica Dr.Maia, também ao teatro debate que vivenciamos, podemos reforçar mais ainda a ideia de que "o medo não passa de uma grande incompreensão", ou seja, são seres humanos como todos nós que precisam de atenção, carinho, compreensão e principalmente um espaço para a escuta. Sabemos o quanto é difícil lidar com a pessoa em sofrimento mental, mas o olhar humano colabora muito com sua melhora.

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  3. Uma visita bastante construtiva,onde observamos o dia-a-dia de pessoas portadoras de saúde mental,uma situação difícil,mas que pode ser trabalhada no passar dos dias,todo cuidado recebido e atenção é de fundamental importância para o desenvolvimento do ser, pois todos precisa é de uma real atenção e compreensão.

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